DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

24/07/10

 
Posted by Picasa
De repente, encontro Norman, um peregrino suíço de longos cabelos loiros e que fala razoável português. Vai a caminho de Santiago de Compostela onde espera encontrar o escritor brasileiro Paulo Coelho para lhe autografar um livro. A sua rotina na estrada é bem mais disciplinada do que a minha. Faz 50 quilómetros todos os dias e na ausência de albergues para peregrinos em Portugal, bate à porta dos bombeiros. “Ontem na Lixa, dormi, tomei banho e até me deram whisky”, conta. Depois de Santiago, planeia seguir até à Finisterra e descer todo o litoral galego e português até ao Algarve.
Cedo me apercebo de que ao pé Norman, me assemelho a um pequeno e frágil monotor ao pé de um jacto prestes a descolar a qualquer momento. Desejamos aos dois boa sorte. Quando dou por ele, já vai uns 500 metros à frente, a abrir caminho com o bastão, indiferente às viaturas que passam velozes entre Felgueiras e Guimarães.
É definitivamente um alívio quando largo a EN 101 em Fareja e começo a trepar por Calvos em direcção ao Santuário da Penha. Paro em Lapinha, arfando e tentando convencer-me de que já estou na Penha. “A Penha?”, responde com um odor a aguardente no hálito e um sorriso mordaz nos lábios, um local desocupado no café mais próximo, “ainda tens de andar muito até lá cima”.
Finalmente, a Penha, o miradouro, a estrada encaracolada, Guimarães lá embaixo, o estádio muito branco curiosamente sobressaindo sobre o bairro histórico, o castelo, o Paço Ducal. Já penso em descer os sete quilómetros até à cidade quando me apercebo que um moderno teleférico se me oferece, as carruagens quase todas vazias, mesmo a meus pés. Digo adeus por momentos ao Portugal a pé e ofereço a mim próprio Portugal de teleférico.

Sem comentários:

 
Site Meter