DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

25/05/09

CRÓNICA PUBLICADA NO CORREIO DA MANHÃ

 
O tempo parou em Sequeiros, um pé no Rio Paiva, as costas viradas para a Serra de São Macário e os olhos postos na parede verde e castanha da Serra de Montemuro. Donzília Cipriano, 50 anos, está atrás de um balcão deserto do Café “Flor do Campo” a descansar de uma manhã a tratar da batata. Donzília, uma ex-empregada de hotelaria, ex-operária numa fábrica de relógios e ex-funcionária de um lar de idosos ne Suíça vê o seu futuro e o da região em tons pálidos, cinzentos como os das nuvens que pairam sobre Montemuro. “Este país está todo ao contrário, investem em grandes obras e não investem no turismo no interior. Se fosse na Suíça, já havia há muitos anos um hotel no topo da Serra e um teleférico que trouxesse os turistas por cima da Aldeia da Pena para o lado de cá”, diz.
Donzília tem muitas ideias mas nenhum poder nem dinheiro. “Temos aqui paisagens tão bonitas como na Suíça. Já foi ao Rio Paiva? Nem uma praia fluvial temos”. Donzília, há muito arrependida de ter deixado o país dos relógios e chocolates- “foi a maior burrice que fiz na vida”- fala como uma visionária: “Trazíamos os estrangeiros aqui aos nossos rios, montanhas, vales, fazíamos passeios entre as aldeias, mostravamos a vida nos campos. Assim, ninguém vem e vai tudo embora. Isto aqui está morto. Os poucos jovens que vivem aqui querem ir embora porque não há trabalho.”
Entusiasmada com o rumo dos seus sonhos e dos seus planos turísticos, Donzília vai buscar vinho, salpicão, presunto, num acto de generosidade difícil de encontrar nos grandes centros onde o poder político investe. “Mais um aeroporto? Mais uma ponte em Lisboa? Para os nossos últimos rapazes e raparigas irem para lá trabalhar e viver?”
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SEQUEIROS

 
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CRÓNICA PUBLICADA NO "CORREIO DA MANHÃ"

 
“Nem eleições nem gripe nem nada. A mim, preocupa-me a minha vida e da minha família. Sobreviver aqui não é fácil. No Inverno ando aqui a falar com as paredes”, explica Alfredo de Brito, 38 anos, um dos sete habitantes da Aldeia da Pena, São Macário, concelho de São Pedro do Sul. Dantes, a aldeia era famosa pela história do morto que matou o vivo. Sem cemitério nem estrada de acesso, era preciso transportar os falecidos em urna até à vizinha Covas do Rio. Um dia, um aldeão deixou escorregar o caixão e este matou outro. Assim o morto matou o vivo. Hoje, a pequena aldeia, longe de tudo e todos, é mais conhecida pela Mariana, 9 anos, filha de Brito e que uma reportagem televisiva da jornalista da RTP, Mafalda Gameiro celebrizou. A Aldeia da Pena só resiste porque Alfredo, serrano da Serra da Estrela e ex-cozinheiro em Lisboa e na Suíça, decidiu instalar-se de armas e bagagens na aldeia da esposa, criar ali uma família e montar um restaurante. Amante da natureza, Brito viu a sua história de resistência rural ganhar impacto com a reportagem sobre Mariana, que entretanto tem já uma irmã, a Margarida, 2 anos. “Vem gente de todo o lado só para ver a Mariana ou trazer-lhe prendas. Não é fácil criar uma criança aqui. De Verão, isto é um espectáculo. De Inverno é complicado porque não há limpeza da neve. É quando aproveito para trabalhar em artesanato”. A Aldeia poderia ter mais habitantes. “As pessoas pedem muito dinheiro pelas casas, fica mais difícil. Só sei que se eu não estivesse aqui a Aldeia da Pena já não existia”. E a Mariana, “a menina da Pena”, a primeira criança a nascer ali em 34 anos, também não.
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JACÓ, O PAPAGAIO DA PENA

 
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MARGARIDA, A SEGUNDA "MENINA DA PENA"

 
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ALDEIA DA PENA AO LONGE

 
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ALDEIA DA PENA

 
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SÃO MACÁRIO

 
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SÃO MACÁRIO

 
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COVAS DO MONTE DO LADO DE SÃO MACÁRIO

 
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COVAS DO MONTE

 
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CHEGADA DAS CABRAS (VIDEO)

CRÓNICA PUBLICADA NO "CORREIO DA MANHÃ"

 
Um dia o falecido pai de José da Cruz, 58 anos, pediu-lhe para regressar a Covas do Monte. Covas do Monte é uma aldeia de pouco mais de 50 habitantes e quase três mil cabras encaixada num vale paradisíaco por debaixo do Portal do Inferno, em pleno Maciço da Gralheira. José largou a confusão de Montparnasse, Paris, onde viveu e trabalhou 16 anos como motorista e a asfaltar estradas e regressou à ruralidade. Há três mandatos que é presidente da junta de freguesia pelo Partido Socialista. Por ali, não há muitos aldeões interessados ou que saibam o que são eleições europeias. “Considero-me português mas acho importante que vá para lá um português gerenciar as nossas coisas”, diz José, depois de ter largado o enorme rebanho de cabras que possui, ter amanhado as terras para plantar o milho.
No largo de Covas do Monte, os idosos vivem num mundo à parte, que só não se extingue graças à força de vontade de José e dos filhos. Os cerca de dez jovens da aldeia viajam todos os dias até São Pedro do Sul para irem à escola, 25 quilómetros de montanha para cada lado. Lisboa é distante, o euro é como se não existisse e a Europa uma miragem. Alguns nunca saíram dali. “Eu trabalhei na Oeiras e na Odivelas, a construir dois liceus, sofri muito mas agora nunca mais lá fui, são muitos contos, dizem...”, conta um.
José da Cruz sonha com apoios que permitam manter a ruralidade extinta em muitas aldeias em redor. “Que piada vai ter um dia você chegar ali acima, ao Portal do Inferno e só ver estevas e uma mancha castanha onde agora é tudo verdinho?”
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COVAS DO MONTE VISTA DO PORTAL DO INFERNO

 
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PORTAL DO INFERNO

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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COVAS DO MONTE

 
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