
O tempo parou em Sequeiros, um pé no Rio Paiva, as costas viradas para a Serra de São Macário e os olhos postos na parede verde e castanha da Serra de Montemuro. Donzília Cipriano, 50 anos, está atrás de um balcão deserto do Café “Flor do Campo” a descansar de uma manhã a tratar da batata. Donzília, uma ex-empregada de hotelaria, ex-operária numa fábrica de relógios e ex-funcionária de um lar de idosos ne Suíça vê o seu futuro e o da região em tons pálidos, cinzentos como os das nuvens que pairam sobre Montemuro. “Este país está todo ao contrário, investem em grandes obras e não investem no turismo no interior. Se fosse na Suíça, já havia há muitos anos um hotel no topo da Serra e um teleférico que trouxesse os turistas por cima da Aldeia da Pena para o lado de cá”, diz.
Donzília tem muitas ideias mas nenhum poder nem dinheiro. “Temos aqui paisagens tão bonitas como na Suíça. Já foi ao Rio Paiva? Nem uma praia fluvial temos”. Donzília, há muito arrependida de ter deixado o país dos relógios e chocolates- “foi a maior burrice que fiz na vida”- fala como uma visionária: “Trazíamos os estrangeiros aqui aos nossos rios, montanhas, vales, fazíamos passeios entre as aldeias, mostravamos a vida nos campos. Assim, ninguém vem e vai tudo embora. Isto aqui está morto. Os poucos jovens que vivem aqui querem ir embora porque não há trabalho.”
Entusiasmada com o rumo dos seus sonhos e dos seus planos turísticos, Donzília vai buscar vinho, salpicão, presunto, num acto de generosidade difícil de encontrar nos grandes centros onde o poder político investe. “Mais um aeroporto? Mais uma ponte em Lisboa? Para os nossos últimos rapazes e raparigas irem para lá trabalhar e viver?”