
Barragem de Santa Luzia, Novembro de 2008. Dói ver um país assim. Enchem-se páginas de jornais e horas de telejornais sobre o silêncio de Manuela Ferreira Leite ou a eterna disponibilidade de Santana Lopes para ocupar cargos políticos. A mim dói-me mais o silêncio deste país esvaziado pela pobreza, emigração e incêndios. O que será deste território que atravesso daqui a 10 ou 15 anos? Atravesso aldeias inteiras de casas recuperadas e habitáveis onde não vive ninguém durante grande parte do ano. As festas anuais das aldeias concentram-se em Agosto, sobrepondo-se umas às outras para aproveitar a vinda dos emigrantes nas férias. Em Setembro, vai tudo embora: os emigrantes regressam a França, Alemanha, Suíça, Brasil. Os estudantes partem para as cidades apetrechadas com escolas politécnicas ou universidades. Nas aldeias ficam meia dúzia de idosos, alguns poucos jovens a trabalhar na construção civil ou nas madeiras, prontos a migrar também se um primo na Suíça os chamar. “Vou para a Islândia, o que é que achas de ir com o António para a Islândia?”, perguntava um funcionário da Câmara de Góis ao balcão de um restaurante local. “Tu vais é para casa que já bebeste demais. Tinhas de levar vários garrafões de vinho para te aguentares no frio”.