Estou de regresso à estrada, na área da Guarda e com intenções de seguir em direcção ao litoral do distrito de Aveiro, cruzando muito provavelmente o Caramulo.
Os campos em Janeiro e depois da pressão dos nevões, perderam o viço de outras épocas. Predomina por todo o lado um verde acizentado e baço que emerge depois de mais uma noite de geada. As hastes das árvores estendem-se de braços abertos e tristes ao céu limpo mas gelado de Janeiro. À beira dos caminhos os fetos estão agora queimados e castanhos que dói de os recordar verdejantes há apenas dois meses. A água parada gela nos tanques e a que corre nas valas da berma da estrada arrepia de tão fria. As únicas notas de vida chegam do fumo das chaminés rurais, do cheiro a lenha, do rumor das éolicas que polvilham a nova paisagem do interior português e dos chocalhos das ovelhas. É Janeiro e a serra encolhe-se da mesma forma que os seus habitantes. "Não devia haver aulas com este frio", desabafa uma estudante acasacada. "Atão querem que as crianças vão cantar as Janeiras com este frio?", pergunta uma mãe, na aldeia de Trinta, à beira do vale do Mondego, um Mondego invernal, escuro, frígido.