Joaquim estava às bordas de Santo André, Montalegre, a espicaçar um velho burro para que este lá puxasse o arado como sempre puxou, como se não estivessemos em 2010, como se ainda o campo fosse campo e os filhos e netos de Joaquim não tivessem todos emigrados. Há muito tempo que não via um arado como o de Joaquim fora de um museu. Metade da leira estava já trabalhada, pronta para levar a sementeira, este ano atrasada pela invernia. O resto ía ter de ser feito a custo, o animal a responder sofrido às investidas do pau de Joaquim, o homem a dar tudo o que tinha na terra. Como quem diz: Quem é da terra, sempre na terra. Até que decidi fazer a pergunta entalada na garganta: E os seus filhos? Suspendi a vista por instantes no perfil magnânime do Larouco, a pairar sobre os telhados, as conversas, um ou outro rebanho e sobre aquela tira de asfalto interminável. “Os filhos, o car...uns estão para a França, outro está para Lisboa, não querem saber disto...Eu estou aleijado das pernas e tenho mais de 80. A minha mulher anda aleijada e o burro já tem muitos anos, estamos todos aleijados".



