Desde que comecei a percorrer Trás-os-Montes em finais de Janeiro, com interrupções à mistura, que sou confrontado persistentemente com a necessidade de contactar o que resta do mundo rural. Há sempre um último qualquer que urge visitar: O último albardeiro, o último alfaiate de capas mirandesas, os últimos contrabandistas. No campo, como aquela leira perdida no Barroso, são os últimos agricultores. Nas aldeias, são as últimas casas em pedra, varandas em madeira, cercadas por moradias garridas, portões de alumínio. Nalguns casos, como em Palas (Vinhais), chego tarde de mais.
Fui a Palas na companhia do meu anfitrião em Vinhais, Anselmo Morais, por uma estrada em terra batida a cerca de dois quilómetros da N 103 que liga Bragança a Chaves. Em 96, ainda ali viviam cerca de 30 habitantes. Os últimos moradores fugiram ao isolamento e à falta de saneamento básico e construiram casas junto à estrada nacional. Hoje, Palas é um mar de silêncio, uma aldeia fantasma, casas abandonadas, outras em ruínas. Por momentos, inventamos vida onde ela já não existe: "Ali, aqueles cortinados a mexer...está ali alguém?" Apercebemo-nos rápidamente que o efeito esvoaçante é causado pelo vento que entra pelas vidraças partidas das janelas.
A desolação humana é tamanha em determinadas aldeias do distrito de Bragança que há pessoas que fogem quando vêm um estranho de mochila às costas a pedir uma indicação. “O senhor desculpe, eu vi o senhor na estrada mas eu não o conheço de lado nenhum...”, explicou uma senhora em Pinelo, Vimioso, a recuar em direcção ao carro.