DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

30/04/10

JAIME DA SILVA, FERREIRO E DEFENSOR DA TRADIÇÃO, SOLVEIRA

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Em Solveira, uma aldeia na base do Larouco, vizinha de Santo André e de Vilar de Perdizes, Jaime da Silva, 82 anos, é o homem que mais se bate pela defesa do antigo, da tradição, de como era dantes. "Eu tenho o vício de guardar tudo o que é antigo, desde moedas antigas a jugos, a paus de malhar. Sempre fui ferreiro, trabalhei na indústria do ferro em França durante 30 anos mas sempre cá vim pelo Natal e no Verão e acho que se deve preservar".
Solveira, é certo, já teve muito mais gente. "Emigrou quase tudo. Havia gente aos pontapés, os campos eram todos trabalhados, havia gente a comer-se uns aos outros, agora enterram-se os velhos e os novos não há".
Sigo pelas ruas de Solveira com Jaime da Silva e é com um brilho nos olhos que me abre o armazém onde guarda a sua colecção de sete malhadeiras. "Aquela ali tem cem anos, todas são diferentes". Jaime já organizou três malhadas durante o mês de Agosto, para os emigrantes e os de fora verem e reconhecerem a tradição, tal como era.
Vou com o senhor Jaime visitar o forno do povo: "Quando eu era pequeno, o forno era o "café" da aldeia, chovia ou nevava mas aqui como o forno estava sempre aceso, a cozer, estava sempre quente. Mais a mais, com estes quatro arcos em pedra e a cobertura também em pedra, não entrava frio por lado algum".
Depois do forno do povo, passamos na sineta, a famosa sineta de Solveira. "Outras aldeias usavam a buzina para chamar o gado para a vezeira, aqui era com esta sineta".
Apesar dos 82 anos, Jaime da Silva procura não parar. Mostra-me o cavalo, o burro, o espigueiro que fez, as suas balanças romanas e até um relógio de Sol, em pedra e que fez sózinho. "Qualquer coisa que pense fazer faço".

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