Fátima Crespo, da Associação de Defesa do Património de Vilar de Perdizes, chegou a Vilar como professora. "Numa das primeiras aulas, abro a janela e vejo uma quantidade de burros presos junto à escola. Vi um velho a espreitar, um guarda fardado mais adiante... Fui perguntar aos colegas se sabiam o que se passava. Não imaginava que aqueles oito ou dez burros pertencessem ao contrabando.Alguém com uma foice cortou a corda dos burros a lá foram eles, sabiam o que fazer".
Vilar de Perdizes vivia de noite. "Às duas, três da manhã, havia um movimento constante. As pessoas estavam aqui à espera de luz verde para avançarem. Fazia-se contrabando de tudo, bacalhau, azeite, alhos, chocolate. Também havia o contrabando de sobrevivência que era feito de dia mas o grande contrabando era feito à noite".
Mais tarde, os burros foram "despedidos" (cada pessoa tinha três ou quatro burros) e o contrabando passou a fazer-se em carrinhas VW e em camiões.
Vilar de Perdizes era uma aldeia "rica" em relação às outras: "Todas as crianças tinham dinheiro. Apareciam ensonadas na sala de aula, mais tarde percebi que tinham andado no contrabando de noite. As pessoas aqui, devido ao contrabando, ganharam um estatuto diferente do resto das aldeias do Barroso".
O fim do contrabando representou o final da atracção e movimentação da aldeia. Muita gente emigrou. "Vilar de Perdizes desertificou bastante", conta Fátima. Os burros, esses, ficaram "desempregados".


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