DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

16/09/08

ÉVORA CULTURAL (CRÓNICA PUBLICADA NA "ÚNICA")

 
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José Francisco Figueira Cid liga o interruptor do camarim improvisado do Teatro A Bruxa, em Évora, onde em sete anos produziu e encenou 18 peças, muitas com dinheiro do seu próprio bolso. “O que recebemos da autarquia e do ministério nem sempre chega. Grande parte do que ganho na televisão, nas séries e novelas, vem para aqui. O teatro é a minha vida”. A frase cai, faz-se silêncio e o brilho nos olhos do actor e encenador Figueira Cid não engana. “Isto é um antigo celeiro cedido pela câmara. Nós é que transformámos tudo, criámos a bancada para 45 pessoas mas mesmo assim não temos casa de banho nem bar nem lugar para guardar os adereços”, explica o encenador que a 12 de Julho leva a cena a duplamente premiada peça “4 mulheres de coragem” da escocesa Rona Munro. Ferreira Cid pediu 15 mil euros ao Banco para poder custear os cenários e pagar às actrizes.
Em Évora, o exemplo do Teatro A Bruxa não é único. Subsistem inúmeras associações a viver em crescentes dificuldades mas que teimam em manter uma agenda cultural rica e diversificada.
“No dia em que as associações deixarem de enviar informação, a agenda cultural da câmara acaba”, vaticina Nuno Belo, da direcção da Harmonia Eborense, uma instituição local com 158 anos , cuja programação cultural foi literalmente por água abaixo quando a ASAE entrou pelas escadas de mármore adentro e fechou o bar.
“A vida cultural da cidade empobreceu com a massificação trazida pela universidade. Esta cresceu muito depressa, arrastou muita especulação imobiliária, a destruição dos interiores de casas históricas, tornou a vida cultural menos interessante”, explica o escultor Pedro Fazenda. “Depois veio a classificação de Évora como património mundial que a empurrou para o turismo e para a transformação da cidade em cenário turístico e de realização de eventos mediáticos”.
Artistas como os escultores Carlos Dutra ou a pintora Coca Froes David recordam “tempos de outra dinâmica cultural na cidade”, quando Évora organizava o festival “Viva A Rua” e de dois em dois anos a Bienal das Marionetas. Apesar de fragmentada, a cena cultural da cidade resiste com gente que respira e vibra com o cenário arquitectónico-arqueológico ímpar. “É me muito importante a luz, os muros brancos, a geometria da cidade”, explica Coca. “Aqui há tempo e espaço para fazer coisas”, explica Bruno Cintra, do Agora Teatro. Os músicos de uma das mais jovens e promissoras bandas da cidade, a Ballis Band, levam-me para o campo, onde ensaiam blues, rock e punk numa garagem rodeada por uma atmosfera bucólica. “Só falta aqui a cadeira de baloiço no alpendre para parecer o Alabama”, comenta sorridente “James”, o baixista.

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