DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

03/06/10

CHEGA DE BOIS EM MONTALEGRE, 30 DE MAIO DE 2010

Nova 4
Uma meia hora antes da hora marcada, são poucos os que chegam ao campo de futebol vizinho ao estádio. A maioria aproveita para refilar: "Dez euros...dez euros para ver duas chegas de bois derrotados..." Quem visse o cenário aquela hora ficaria convencido que a chega, uma chega de bois cruzados (o torneio de chegas de bois barrosos começa dia 9 de Junho) se iria transformar num tremendo fiasco. Aos poucos, mesmo a dez euros o bilhete e num campo sem vedação, chegam aficcionados que sobem entusiasmados a rampa em terra batida. Os que chegaram primeiro, são os mais entusiastas. Por momentos, dá a impressão que se está nas vésperas de um jogo de futebol. Os homens conhecem os touros, discutem a última chega, os lances, como um "torrou", como outro se esquivou.
A primeira chega começou ainda sob o cepticismo dos exigentes aficcionados mas as coisas duram o suficiente e bem para contentar toda a gente. "Eh boi, eh boi, eh mane, chega-lhe boi!" A última chega é entre o Amarelo e um boi preto de mais de mil quilos (verdade). Para um leigo, apesar do peso e da forma que a chega se desenrola, o preto tem tudo para vencer. Puro engano. "O preto já vem de uma derrota, está sem força", diz-me alguém. Depois de muito jogo do empurra de parte a parte mas com predominância do grande boi negro, o amarelo contra-ataca: Uma, duas, três cornadas, todas com o corno direito. O grande boi preto recua, primeiro e depois foge, para entusiasmo dos fãs das chegas que invadem o recinto. Um pai com o filho ao colo corre para afagar o focinho do vencedor. Vários homens apressam-se a felicitar o dono do animal. O preto e o dono são ignorados pela pequena multidão que se aglomera junto ao amarelo, o vencedor, que é afagado com o pau pelo dono e brua, o grande focinho ao ar como um misto de bisonte e lobo.
No dia seguinte, dizem-me que o preto não luta mais. Foi para o matadouro. "O amarelo sim, ainda tem condições para chegar, o preto não". De qualquer forma, para os donos do boi, o retorno é quase sempre garantido. "Um boi destes chega a ser comprado por 25 mil euros mas se fizer umas quantas chegas ganha-se em bilheteira".




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