
"Ao concelho de Macedo de Cavaleiros chamavam noutros tempos o concelho da fouce. Com razão. Eram terras ricas em cereal e por isso era a fouce, também dita seitoura, a alfaia definitiva. Macedo não se envergonhava do chamadouro. Pelo contrário, ele inculcava fartura de pão na arca. Por meados do século, ainda a ceifa mecanizada vinha longe, acudiam à vila os segadores em busca de quem os justasse.Vinham todos os anos de terras longínquas aproveitar a oportunidade sazonal de juntar umas jeiras. E com eles, vinha a alegria às ruas de Macedo, sobretudo na Feira de São Pedro ou dos "Segadores", a 29 de Junho. Estou a vê-los: Em bandos numerosos e garridos, cada bando como que arregimentado sob o seu pendão, desfilavam pelas ruas centrais da vila e vinham juntar-se na Praça dos Segadores, entre cantigas e o seu pezinho de chula, à espera de lavrador precisado que os apalavrasse. Feito o ajuste, lá iam no dia marcado para o calvário imenso da segada, também ela feita entre cantigas, mas agora dolentes, como se a música fosse o único queixume de andar dias inteiros, dobrado pelos rins, curtindo sóis e sedes, a segar o pão".
A.M. Pires Cabral, poeta, escritor e dramaturgo transmontano
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