DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

16/06/09

"QUER COMPRAR A MINHA BURRA?"

 
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Os aldeões do interior de Portugal competem no repetitivismo minimalista com os políticos portugueses em campanha. Enquanto estes repetem até à exaustão slogans e acusações sobre a política nacional quando se candidatam a um lugar no Parlamento Europeu, os portugueses que ainda trabalham o campo afirmam quase sempre: "Disso eu não sei..." Depois, regressam à plantação de milho e à criação de gado com a mesma naturalidade com que muitos deputados deixam os restaurantes junto a São Bento, em Lisboa e se voltam a sentar na cadeira atribuída na Assembleia da República.
De cada vez que a enxada sobrevivente de António Coelho Rodrigues, 83 anos, de Vale Abrigoso, rasgar o solo pobre da região de Lamego ou sempre que António tiver de afastar as suas cabras das da vizinha que as traz na estrada vinda de Bigorne, há-de alguém estar a discursar em frente a bandeiras e populares saídos de autocarros. "O que eu faço mesmo é vender gado. Vou às feiras de gado daqui. Nunca saí para fora, aqui há ar puro e eu não gosto de cidade. Quer comprar a minha burra? Quer comprar, eu vendo".
Ali, em Vale Abrigoso, pouco mais de 150 habitantes, a indiferença é recíproca. Para a maioria dos políticos em campanha, Vale Abrigoso não existe e para os aldeões, a política europeia também não. Durão Barroso apelou ao voto no dia sete? “Dia sete vou estar numa chega de bois, quer vir?”, pergunta António Coelho Rodrigues.

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