Desde que comecei a percorrer Trás-os-Montes em finais de Janeiro, com interrupções à mistura, que sou confrontado persistentemente com a necessidade de contactar o que resta do mundo rural. Há sempre um último qualquer que urge visitar: O último albardeiro, o último alfaiate de capas mirandesas, os últimos contrabandistas. No campo, como aquela leira perdida no Barroso, são os últimos agricultores. Nas aldeias, são as últimas casas em pedra, varandas em madeira, cercadas por moradias garridas, portões de alumínio. Nalguns casos, como em Palas (Vinhais), chego tarde de mais.
Fui a Palas na companhia do meu anfitrião em Vinhais, Anselmo Morais, por uma estrada em terra batida a cerca de dois quilómetros da N 103 que liga Bragança a Chaves. Em 96, ainda ali viviam cerca de 30 habitantes. Os últimos moradores fugiram ao isolamento e à falta de saneamento básico e construiram casas junto à estrada nacional. Hoje, Palas é um mar de silêncio, uma aldeia fantasma, casas abandonadas, outras em ruínas. Por momentos, inventamos vida onde ela já não existe: "Ali, aqueles cortinados a mexer...está ali alguém?" Apercebemo-nos rápidamente que o efeito esvoaçante é causado pelo vento que entra pelas vidraças partidas das janelas.
A desolação humana é tamanha em determinadas aldeias do distrito de Bragança que há pessoas que fogem quando vêm um estranho de mochila às costas a pedir uma indicação. “O senhor desculpe, eu vi o senhor na estrada mas eu não o conheço de lado nenhum...”, explicou uma senhora em Pinelo, Vimioso, a recuar em direcção ao carro.
DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com
19/05/10
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5 comentários:
Olá caro amigo caminheiro, admiro o trabalho que está a desenvolver na preservação do Portugal profundo. Quero informar que faço parte da Associação Rio Neiva, sou responsavel pelo Departamento de Pedestrianismo da mesma Associação. Depois de ver a peça na TVI da sua "Caminhada, pelas gentes e tradições de Portugal", deixo-te as seguintes perguntas, o que será deste País quando se perder no tempo o conhecimento da nossa identidade? Será que os chinêses conseguirão produzir as alheiras de Pitões das Junias? Será que Espanha conseguirá produzir as murcelas doces e as pedras parideiras de Arouca? Será justo perder a maior riqueza deste Pais, que è o seu conhecimento? Um abraço e boas caminhadas, qualquer contacto, podes fazer pelo e-mail luisjesus73@hotmail.com
Olá,
Depois de ver a reportagem na TVI, e ter reparado que anda por terras da minha infância, onde estão as minhas raízes fiquei espectante por ver as imagens e os seus comentários quando subir a serra de Larouco passando inevitávelmente por Padornelos, terra do meu querido e saudoso pai.
O ar é diferente, as gentes são únicas e as paisagens inesquésiveis.
No alto do Larouco poderá ver de um lado os galegos do outro os portugueses, e a perder de vista montes e vales de um verde genuíno.
Saudade........fiquei com muita saudade!
Boa viagem:)
Fátima
Fui ao alto do Larouco mas desci por Gralhas, tenho de regressar e ver Padornelos!
Favor visitar a aldeiazinha do Paraizal,Paraizal blogspot.com.Sabe eu acho que não viu o mundo quem não tem uma aldeia no coração....
Infelizmente esta foto já faz parte do passado, pois hoje passei nesta estrada e esta casa abandonada já foi demolida, tantos anos a passar aqui e a ver esta imagem.......barragens...........
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