DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com
16/06/09
DESERTIFICAÇÂO EM CABRIL (CRÓNICA PUBLICADA NO CORREIO DA MANHÃ)
“A maioria dos habitantes daqui nem sequer sabem que vai haver eleições europeias e outros sabem mas não ligam aos editais. É algo que não lhes diz nada, estão preocupados com o milho ou com a casa ou com a vinha…”, explica José Gonçalves, 59 anos, presidente socialista da Junta de Freguesia de Cabril, Castro Daire.
Natural de Cabril, neto e filho de emigrantes no Brasil, José sentencia rápidamente o destino da freguesia: “O nosso principal problema foi a maioria da população ter migrado para Lisboa. Muitos foram para a tropa durante a Guerra Colonial, lá abriram os olhos para o mundo mas por lá ficaram, com filhos e netos. Fizeram cá casa mas cada vez vêem menos”. O mesmo já não se passa com os poucos que migraram para o Porto: “São menos mas vêem todos os fins de semana porque a distância é menor”.
O efeito da emigração para o Brasil, França, Alemanha e Lisboa é tanto que mesmo a 15 de Agosto, pelas Festas da Nossa Senhora da Assunção, os que migraram visitam a terra natal em cada vez maior número. “O cordão umbilical partiu-se, resume José Gonçalves, ex-professor em Resende, distrito de Viseu.
Cabril tinha muito potencial agrícola e o seu azeite, há mais de vinte anos, chegou a ser considerado “o melhor do país” por um técnico do IROMA (Instituto Regulador e Orientador dos Mercados Agrícolas). Hoje, a maior parte dos terrenos abandonados, mantem um potencial turístico elevado. A Aldeia de Levadas, na freguesia, já sem habitantes e em xisto e telhados de lousa já foi objecto de cobiça de grupos turísticos. “Infelizmente, as pessoas donas das casas estão para fora mas não querem vender. Para nós, seria óptimo que ali criassem uma aldeia turística”.
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