DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com

17/06/09

SALZEDAS (TAROUCA)

 
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UCANHA

 
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FLOR ALMEIDA, UCANHA (CRÓNICA PUBLICADA NO "CORREIO DA MANHÃ")

 
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A Dona Rosa, grande anfitriã de Ucanha, guardiã da Igreja Matriz e cicerone de uma das aldeias mais belas do país, não está. “Foi para a Serra da Estrela em passeio, hoje está quase tudo para lá”, explica uma sorridente e simpática Flor Almeida, 50 anos, uma dos onze filhos da famosa Dona Rosa. Ucanha sempre foi famosa pela Ponte Fortificada sobre o Rio Varosa, por ter sido o berço do etnólogo Leite de Vasconcelos mas o projecto “Aldeias Vinhateiras do Douro” trouxe-lhe uma vida e uma cor novas, sobretudo na área onde existiu até agora maior intervenção, a Rua Direita. A casa onde Flor vive com a Dona Rosa é uma das casas intervencionadas, com portas em verde, paredes em branco. Flor viveu muitos anos na Suíça, trabalhando na hotelaria e voltou para tomar conta da mãe. “Ucanha, se fosse na Suíça, era visitada por milhares de turistas, tinha um hotel de cinco estrelas…”, desabafa Flor. Não só a paisagem é deslumbrante, o Varosa bordejado por salgueiros e amieiros, a Serra de Santa Helena como fundo para os campos de milho, para as vinhas e os olivais, como tudo em Ucanha respira História, a nossa, a de Portugal. “Precisava de ser mais promovida no estrangeiro”, afirma Flor. Os deputados, a eleger no domingo, que promovam Ucanha, as suas Quelhas, o seu granito, as suas casas de varandas em madeira colorida. “Ai se fosse na Suíça…”

UCANHA

 
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DONA ROSA (CRÓNICA PUBLICADA NO "CORREIO DA MANHÃ"

 
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“A Torre estava abandonada e eu botei-lhe a mão”, conta agora Rosa de Jesus, 74 anos, mais conhecida por Dona Rosa, a mulher que durante mais de 20 anos cuidou da Torre Fortificada e da Igreja Matriz de Ucanha. “Tratei daquilo, fiz lá um pequeno museu com coisinhas agrícolas, fazia as limpezas e explicava as pessoas a História da Torre. Eu não sei ler mas fui aprendendo com os turistas. Para o fim parecia um papagaio, sei tudo de cor”. A Torre passou a ser a razão de viver da mãe de 11 filhos. “Era como a se a Torre fosse minha. Recebia louvores dos turistas no livro de visitas…” Há oito anos, Rosa de Jesus foi substituída pelo turismo local. “Foi como uma facada nas costas. Eu fazia aquilo por orgulho, prazer, por paixão”.
Sem entender o afastamento, Dona Rosa adoeceu. “Estive em depressão e em tratamento. Então, eu estava acostumada a estar a fazer o comer e apagar o lume para ir atender os turistas…” Sem a “sua” Torre, Rosa de Jesus continuou a tomar conta da Igreja. “A maioria das pessoas vêm aqui a Ucanha para visitar a Torre mas quando entram na Igreja ficam de boca aberta”, explica. Na verdade, o contraste entre a sobriedade granítica do exterior e a riqueza da talha dourada dos retábulos e dos caixotões pintados do tecto é enorme. “É linda, não é? Eu sonho com a Igreja…”
Agora, enquanto vai aprendendo a escrever na Junta de Freguesia, Rosa de Jesus vive de cuidar a Igreja Matriz e das recordações da Torre. De política e eleições é que Dona Rosa não quer nem saber: “Eles é que o ganham, não ligo a essas coisas”.

UCANHA

 
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UCANHA

 
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UCANHA

 
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JOAQUIM RODRIGUES, SÃO JOÃO DE TAROUCA (CRÓNICA PUBLICADA NO CORREIO DA MANHÃ)

 
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“Nesta freguesia toda a gente tem televisão e acesso à internet na Junta de Freguesia”, explica Joaquim Rodrigues, 60 anos, autarca socialista de São João de Tarouca, um vale verdejante encaixado entre arvoredo, famoso pelo seu mosteiro. “O problema é que as pessoas ligam a televisão, sentam-se à espera de ver os candidatos debaterem questões europeias e vêem-nos a trocar acusações oportunistas sobre a política nacional. É uma estupidez, uma tristeza”, diz Joaquim, ex-auxiliar na Escola António Arroio, em Lisboa. “Os culpados de as pessoas se absterem nestas eleições são os candidatos porque em vez de fazerem uma campanha pedagógica sobre o Parlamento Europeu andam a acusar-se mutuamente sobre temas que não têm nada a ver com a Europa”, defende. “Imagine se na campanha das legislativas só se falasse em questões europeias…é um absurdo”. Joaquim Rodrigues, 31 anos de Lisboa e há 12 como autarca em São João de Tarouca, poeta popular e amante da natureza, tem-se esforçado para modernizar a população. Hoje, a vila tem espaço internet, biblioteca, aulas de ginástica, loja de artesanato criada pela junta, tudo conseguido com apoios comunitários. “Aqui as pessoas estão informadas sobre tudo e ao mesmo tempo vivem no meio da natureza. Às vezes, comunico no Messenger com amigos meus em Lisboa e digo-lhes que estou a respirar ar puro, a ouvir as águas do Rio Varosa e os pássaros nocturnos. Em São João de Tarouca, somos senhores do tempo…”
 
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UM CHAMAMENTO DIVINO

 
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“Foi um chamamento divino”, explica António Vieira Caetano, 72 anos, guardião do Mosteiro de São João de Tarouca. Durante anos, trabalhou em Lisboa em lojas de vestuário como a alfaiataria Rosa E Teixeira, na Avenida da Liberdade. Um dia regressou à terra natal e tratou de cuidar do grande monumento da sua terra. “Vim para aqui em 1977, estava o Mosteiro com as portas abertas, sem telhado, os azulejos descolados das paredes, esculturas em terracota desfeitas. Decidi ficar por aqui e ajudar o mais possível na preservação do monumento nacional”, diz.
As histórias contadas por António Caetano são mais que muitas: “Uma vez um ex-presidente da Junta de Freguesia apontou-me uma pistola porque queria construir habitação junto ao mosteiro e eu opus-me. Já faleceu, Deus o tenha em descanso”. As dificuldades de preservação do monumento foram muitas. “Cheguei a colocar a rapaziada de ocupação dos tempos livres a cortar paus para escorar as talhas”.
Foi durante o governo socialista de António Guterres que o Mosteiro sofreu as maiores obras de restauração. “O Guterres veio cá , eu estava ali ao fundo e ele perguntou: Onde está o senhor Caetano, esse herói, que eu quero dar-lhe um abraço”.
Caetano orgulha-se de ter recebido uma medalha de ouro de mérito da Assembleia Municipal de Tarouca e de ter sido entrevistado na SIC. “A Júlia Pinheiro só me disse: Você venceu a guerra, a pistola transformou-se em ouro”.
Neste momento, o Mosteiro necessita da restauração do órgão de tubos. “Já cá vieram técnicos europeus, falta a contribuição do Estado português”. Pode ser que algum deputado eleito hoje ajude, em Estrasburgo, a desbloquear mais essa batalha de Caetano.

MOSTEIRO DE SÃO JOÃO DE TAROUCA

 
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ENTRE VILARINHO E SÃO JOÃO DE TAROUCA

 
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VILARINHO

 
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VILARINHO

 
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TEIXELO

 
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TEIXELO

 
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TEIXELO

 
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VARZEA DA SERRA

 
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16/06/09

VARZEA DA SERRA

 
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PISCINA FLUVIAL DE VÁRZEA DA SERRA

 
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"QUER COMPRAR A MINHA BURRA?"

 
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Os aldeões do interior de Portugal competem no repetitivismo minimalista com os políticos portugueses em campanha. Enquanto estes repetem até à exaustão slogans e acusações sobre a política nacional quando se candidatam a um lugar no Parlamento Europeu, os portugueses que ainda trabalham o campo afirmam quase sempre: "Disso eu não sei..." Depois, regressam à plantação de milho e à criação de gado com a mesma naturalidade com que muitos deputados deixam os restaurantes junto a São Bento, em Lisboa e se voltam a sentar na cadeira atribuída na Assembleia da República.
De cada vez que a enxada sobrevivente de António Coelho Rodrigues, 83 anos, de Vale Abrigoso, rasgar o solo pobre da região de Lamego ou sempre que António tiver de afastar as suas cabras das da vizinha que as traz na estrada vinda de Bigorne, há-de alguém estar a discursar em frente a bandeiras e populares saídos de autocarros. "O que eu faço mesmo é vender gado. Vou às feiras de gado daqui. Nunca saí para fora, aqui há ar puro e eu não gosto de cidade. Quer comprar a minha burra? Quer comprar, eu vendo".
Ali, em Vale Abrigoso, pouco mais de 150 habitantes, a indiferença é recíproca. Para a maioria dos políticos em campanha, Vale Abrigoso não existe e para os aldeões, a política europeia também não. Durão Barroso apelou ao voto no dia sete? “Dia sete vou estar numa chega de bois, quer vir?”, pergunta António Coelho Rodrigues.

ABRIGOSO

 
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ABRIGOSO

 
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