Lucinda aprendeu a tecer essa espécie de almofada que assentava na canga dos bois com uma senhora das terras de Coura. Fez tantas e durante tanto tempo que lhe perdeu a conta. Quando as cangas perderam o uso e as monelhas levaram o mesmo caminho, Lucinda passou a fazê-las por encomenda.
De nuno fotos |
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“Vendi muitas para o Canadá, para França. Agora já não tenho vista para as trabalhar e já não há material, a lã, o pano, as linhas próprias para elas, a correia”. Hoje há monelhas tecidas por Lucinda Pereira em todo o lado menos em sua casa. “Vendi-as todas”. Encontrei Lucinda e o marido entretidos no trabalho do campo em Grijó, Rio Frio, uma freguesia serrana a uns quilómetros largos do vale onde repousa Arcos de Valdevez. Grijó tornou-se conhecida pela broa de milho premiada em Itália e que atraíu ali jornais e televisões. “Aqui o ar é bom, sim senhor mas a vida do campo é escrava”, explica Lucinda, que continua a viver da lavoura, do milho, das batatas, das ovelhas, do feijão.
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De Arcos de Valdevez à bucólica Ponte da Barca é um pulo de não mais de cinco quilómetros, o que separa o Vez do Lima. Em Arcos (nos Arcos, como diz toda a gente) antes de me fazer ao caminho, cruzei respeitosamente a entrada da Igreja da Lapa e fui bater à porta da famosa Tasca do Delfim, um santuário pagão de concertinas do mundo inteiro. “Toquei muito por todo o lado, aqui em Portugal, nos Estados Unidos, Brasil, Canadá, Venezuela. Só a França fui 220 vezes”, explica sorridente Delfim Amorim “e em todo o lado onde ía comprava mais uma concertina com o dinheiro que ganhava”.
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“Deu-se a explosão total. Quando eu era novo alguma vez uma mulher tocava concertina? Hoje, vai-se a um encontro de concertinas, é mulheres, crianças, é incrível. Toda a gente quer aprender e cada vez mais porque a concertina é alegre, levezinha e faz-se gato sapato dela”, explica Delfim.
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Longe do rebuliço das romarias, Delfim Amorim está nas suas sete quintas entre as centenas de fotos de amigos e tocadores que fez pelo mundo e entre a sua colecção de concertinas.
O futuro da família no reino das concertinas ( um filho e uma filha também cantam e tocam) parece definitivamente assegurado. “O meu filho, esse é a melhor coisa que existe”, afirma com um brilhosinho nos olhos. O filho é o Delfim Júnior, líder da banda Império Show. “Há oito dias, no Canadá, meteu 2.700 pessoas num salão onde nem o Quim Barreiros nem o Augusto Canário meteram tanta gente”.
4 comentários:
Nuno,
Adoro esta sua viagem. Fico com inveja (mas da boa!). Obrigada por esta história.
Mary Pereira
A viagem, a musica tudo é perfeito!
Boas caminhadas.
Abraço
Muito obrigado
Nuno adorei seu blog!
Abraços de Brasília, capital do Brasil...
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