Já saía de Deilão quando comecei a ouvir as passadas do homem atrás de mim. Um tipo alto, branco, cabelo aloirado, olhos claros, passada larga em bota de cano alto, quatro cães pequeninos a brincar e cirandar à sua volta. Em breve chegaria à minha beira. Trazia uma forquilha apoiada sobre o ombro direito. Seguimos juntos dois, três quilómetros. Ia tratar do campo que tinha sido estraçalhado pelos javalis. Os adversários dos últimos agricultores de Deilão são os javalis e as cabras selvagens. "Aquelas de cornos grandes, cornos aí de dois metros. Dão cabo de tudo". Os javalis também. "O Parque (Parque Natural de Montesinho) não nos deixa apanhar lenha, não podemos dar um tiro num javali nem num lobo. O povo está todo contra o parque".
Comento, enquanto nos embrenhamos numa zona de pinheiros e os cães executam corridas para lá e para cá, que deve ser complicado ter de ir buscar lenha fora do parque. O homem da forquilha não diz nada, olha em frente. "Os lobos bem podiam andar aí pela serra mas não, eles querem é encher a barriga de galinhas. Bom, agora vou-me ficar por aqui". O homem da forquilha desaparece mais os cães reguilas num caminho de terra batida entre pinheiros. Vai corrigir o que o javali fez ao campo. Tenho impressão que é uma guerra perdida. Malditos javalis...
DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com
25/03/10
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