DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com
25/05/09
CRÓNICA PUBLICADA NO "CORREIO DA MANHÃ"
Um dia o falecido pai de José da Cruz, 58 anos, pediu-lhe para regressar a Covas do Monte. Covas do Monte é uma aldeia de pouco mais de 50 habitantes e quase três mil cabras encaixada num vale paradisíaco por debaixo do Portal do Inferno, em pleno Maciço da Gralheira. José largou a confusão de Montparnasse, Paris, onde viveu e trabalhou 16 anos como motorista e a asfaltar estradas e regressou à ruralidade. Há três mandatos que é presidente da junta de freguesia pelo Partido Socialista. Por ali, não há muitos aldeões interessados ou que saibam o que são eleições europeias. “Considero-me português mas acho importante que vá para lá um português gerenciar as nossas coisas”, diz José, depois de ter largado o enorme rebanho de cabras que possui, ter amanhado as terras para plantar o milho.
No largo de Covas do Monte, os idosos vivem num mundo à parte, que só não se extingue graças à força de vontade de José e dos filhos. Os cerca de dez jovens da aldeia viajam todos os dias até São Pedro do Sul para irem à escola, 25 quilómetros de montanha para cada lado. Lisboa é distante, o euro é como se não existisse e a Europa uma miragem. Alguns nunca saíram dali. “Eu trabalhei na Oeiras e na Odivelas, a construir dois liceus, sofri muito mas agora nunca mais lá fui, são muitos contos, dizem...”, conta um.
José da Cruz sonha com apoios que permitam manter a ruralidade extinta em muitas aldeias em redor. “Que piada vai ter um dia você chegar ali acima, ao Portal do Inferno e só ver estevas e uma mancha castanha onde agora é tudo verdinho?”
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2 comentários:
Escreve-se asfaltar (de asfalto) e não esfaltar.
E escreve-se o nome, quando se quer corrigir alguma coisa.Obrigado.
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