DIÁRIO DE VIAGEM DO JORNALISTA NUNO FERREIRA (EX-EXPRESSO, EX-PÚBLICO) QUE ATRAVESSOU PORTUGAL A PÉ ENTRE FEVEREIRO DE 2008 E NOVEMBRO DE 2010. O BLOG INCLUI TODAS AS CRÓNICAS PUBLICADAS NA REVISTA "ÚNICA" EM 2008, BEM COMO AS QUE SÃO PUBLICADAS SEMANALMENTE NO SITE CAFÉ PORTUGAL. (Travel diaries of Nuno Ferreira, a portuguese journalist who crossed Portugal on foot from February 2008 to November 2010. contact: nunoferreira62@gmail.com ou nunocountry@gmail.com
15/11/08
TÉDIO NA SERRA
"Calma, a serra ainda agora está a acordar", comenta um vendedor, confrontado com o aborrecimento dos jovens empregados da loja de artigos para o frio e neve Lindeza, nas Penhas da Saúde. Ser jovem ali não é fácil. Lá fora, entre as rochas e casas de férias fechadas, reina o vento gelado da serra. "Isto sem neve é só pedras", desabafa entediada uma das duas jovens empregadas, encostada à lareira. É do Fundão e prefere a Gardunha: "É mais bonito, isto sem neve é só pedra".
A 10 de Novembro, as Penhas da Saúde é um deserto à espera das desejadas multidões que aparecem ali para ver neve. Sobram alguns casais de namorados e pais que escolheram mal a época para levar ali os filhos: "Calma, eu volto a trazer-te aqui quando houver neve..."
JOAQUIM NUNCA FOI À PRAIA
"Praia? Comecei como pastor aos seis anos, tenho 51 e nunca tive férias". Joaquim Antunes dos Reis, 51 anos, pastor de Cortes do Meio, guarda 250 cabeças (ovelhas e cabras) junto à estrada quando chego às Penhas da Saúde vindo lá da cidade, da Covilhã. "Começo o dia com uma aguardente e trago comigo carne salgada, presunto, queijo e um litro de vinho. Chego a ter 500 animais, é uma grande responsabilidade". Paisagem espectacular na serra? "Eu quero é conhecer praias, brasileiras, calor. Isto já satura".
COVILHÃ-PENHAS DA SAÚDE
FEIRA DA CASTANHA, FERRO, COVILHÃ
14/11/08
DIOGO, VENDEDOR DE CASTANHAS DE VIDEMONTE, EM FERRO
Diogo é um dos três jovens que restam na aldeia de Videmonte, na vertente oriental da Serra da Estrela. Estuda em Belmonte mas naquele dia está ali para ajudar os pais na venda da castanha. "Isto 'tá mau, fraquito. Antigamente, ainda havia umas fabriquitas que empregavam algum pessoal. Fecharam, o pessoal teve de emigrar. Qualquer dia não há aí ninguém". Um rapaz que vende carpetes por detrás de Diogo esfrega as mãos para afastar o frio. Há horas que 'tá ali a tentar vender um tapete: "Está mau? Está péssimo. O pessoal não tem dinheiro. Veja como eles já vêem de mãos nos bolsos. Se não fosse irmos para Espanha vender, morríamos à fome..."
Subscrever:
Mensagens (Atom)